quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quem quer nesse mundo globalizado viver humildemente?



texto de 2008


A busca desenfreada do ter deixa de lado o ser. Se perguntássemos a uma garota que viveu na década de 70 aqui no Brasil, quais eram seus sonhos, planos e objetivos, a resposta seria fascinante. Ela queria voz, liberdade de expressão e de pensamento, ela iria querer aperfeiçoar-se, buscaria conhecimento, estudaria obras dos mais variados intelectuais, só pra entender o mundo em que ela estava vivendo. Entender porque a busca e a detenção do poder nos fazem tiranos, ditadores. Que essa busca usurpa todo sentimento de piedade, compreensão, amor ao próximo, mesmo que mínimo existente no ser humano. Essa garota iria falar dos sonhos de liberdade, igualdade, de atos filantrópicos que deveríamos seguir, tudo isso porque ela viveu numa das épocas mais conturbadas de nossa história, a ditadura militar, esta que trouxe tanto sofrimento, dilaceramento físico e intelectual, mas contudo fez despertar no consciente social a busca pelo aprimoramento, pela mudança.
Em janeiro de 2008, gostaria de perguntar a uma jovem o que ela gostaria de ter, que sonhos gostaria de realizar. Mais seca não poderia ser a resposta da garota século XXI, ela não sonha nada. O mundo que se acabe, mas suas crises existenciais são mais importantes. A roupa de grife que ela não consegue comprar é frustrante, e o scarpan (para quem não sabe, isso é aquele sapato que tem um bico) que não combina com nada. Um macho rico que sustente e realize seus mais torpes desejos. É simplesmente dura e insossa a vida dessa garota. Esta que acabará o resto da vida lendo Augusto Cury e não fará nada que mude a vida ao redor de si mesma.
Estes são os novos mitos norte-americanos. Não haveria pior civilização imperialista, esta que nos impõe uma cultura pobre, com nomenclaturas bem simples, estas que são: consumir, capitalizar, consumir. Essa é a cultura que os jovens e crianças de nosso tempo estão adquirindo. Será que o SER humano irá mesmo se tornar um TER humano? Não se sabe, pode ser que em um extremo de capitalismo e globalização, algumas pessoas cheguem a produzir e expor o melhor que têm em si, em contradição a tudo isto.
Em meio a todo esse blá-blá-blá, lembrei-me de uma figura interessantíssima da cultura grega, Diógenes Laertios. Ele que foi seguidor de Antístenes, criador da corrente filosófica chamada de cinismo. Na sua origem cínico significa “canino, próprio dos cães. Em grego, kuon significa cão, e a ligação etimológica é evidente. Os kunikós eram os membros de uma seita filosófica que desprezava as conveniências e as fórmulas sociais”. Este sujeito vivia em um barril e como o significado nos mostra, ele vivia como um animal, aproveitava apenas o que a natureza poderia lhe oferecer, criticava o modo de vida da sociedade que esbanjava luxo. Ele abdicou da vida material. Existem muitas anedotas sobre este hilário cínico. Certa vez estava na acrópole (ágora, errata) em plena luz do dia, se masturbando. As pessoas ficaram chocadas e quando repreendido, simplesmente exclamou: "Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas esfregando a barriga!”.

Mas por favor, crianças não façam isso na rua, vocês podem ser presos!