quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Vida média

A vida é um ciclo. Se olharmos ao redor, vemos meninas de 18 anos usando roupas e sapatos parecidos com o que já vimos nossas mães usando. Vejo homens com cabelos Black- Power e lembro das fotos de meu pai usando o mesmo modelo há mais de vinte anos atrás. Falando de ciclos, nunca deixaria de citar Cazuza que dizia: “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. Não fiquemos desanimados, a vida é assim mesmo uma eterna repetição, mesmo que não percebamos, estamos fazendo exatamente tudo que nossos pais já fizeram. Variamos de um lado ou de outro, inovamos e até criamos, mas não deixamos de repetir as mesmas coisas.
Sei que estou sendo repetitiva, mas não posso deixar de citar Nietzsche e o eterno retorno. Ele fala que o eterno retorno seria uma maldição, em que tudo que se fizesse hoje se repetiria eternamente. Caso fizéssemos boas escolhas, como uma vida saudável, feliz, amigos, viveria eternamente essa vida. Caso contrário, escolhesse uma vida sem sentido, em um emprego que não gosta, em um casamento infeliz, em uma busca apenas por coisas superficiais, assim seria eternamente sua vida, não poderia mais mudar.
Suponho que o eterno retorno realmente exista, com a diferença que podemos escolher mudar. Podemos escolher uma vida criativa, feliz, podemos escolher ou não um bom casamento, uma boa carreira. Podemos escolher ou não viver à espera de um milagre, ou simplesmente fazer de cada dia um milagre.
Sei que tudo isso parece mais um clichê da vida feliz na contemporaneidade, que sua vida é cheia de obrigações para parar para pensar neste monte de bobagens sobre vida feliz, isso ou aquilo, outros até diriam que vida feliz é feijão na mesa. De acordo com a pirâmide de Maslow, acredito que vocês estão cheios de razão.
A sensibilidade, o idealismo, a auto-realização, dentre outros estão lá no topo da pirâmide, e também não deixamos de ter razão por querermos coisas assim. E neste ínterim, toca-se no assunto mudança novamente, um tema que anda rodeando meus sentimentos e pensamentos, entretanto, o que me motivou a escrever essas linhas não foi apenas a mudança, mas o que ela provoca nas pessoas.
Acompanho diariamente a vida social dos amigos e mais próximos no facebook, e compreendo o que se passa na cabeça de muitos ali apenas por uma porção de postagens e de comentários. Percebi, e não foi surpresa, que a motivação de muitos dos meus contemporâneos e conterrâneos, é derivada de uma vida superficial, cheia de interesses, e uma mediocridade que não dá para sentir inveja. Somente uma observação, quando falo de mediocridade, não tenho em minha mente que a pessoa seja menor, ou menos inteligente, ou mais idiota. Penso apenas que um medíocre vive uma vida média, sem graça, sem pretensão, sem rumo, sem aquele brilho nos olhos que dá vontade de ver.
E o que compreendo ainda mais sobre mediocridade dos meus conterrâneos, foram suas motivações em um momento político importante para o ponto de partida de mudança da cidade. O que vejo são muitos ressentidos por não terem conseguido um bom emprego, pensam eles: “eu estava lá, fui a todas as palestras, carreatas, fui aos sítios, ajudei, coloquei meu carro para rodar com minha própria gasolina, mereço o melhor emprego”. Isso é medíocre, mal sabe essa pessoa, que as suas escolhas políticas podem melhorar a educação, a saúde, o entretenimento, e que isso é muito mais importante, pois terá muitas e boas consequências no futuro, dentre elas a tal vida financeira a qual tão almejam.
Mas não só vejo a mediocridade rondando a cabeça das pessoas atrás dos empregos não, vejo também em algumas lideranças. Como estudante de administração, posso não ter aprendido a ser a melhor administradora ou líder, mas aprendi a observar. Dentro da percepção de boa administração leva-se mais em conta a razão do que a intuição, sobretudo, leva-se pouco ou nada em consideração se a pessoa a ser escolhida foi partidária ou não. É por essas e outras coisas que existe o emprego por indicação, o nepotismo, e acima de tudo, existe uma máquina pública que mal funciona e precisa mais e mais da contribuição da população pagando altos impostos.
Se um líder sequer pensasse antes de qualquer coisa na hora de montar uma equipe, em meritocracia, a coisa mudava de rumo, poderíamos até ser considerado um país evoluído. Segundo a Wikipédia, meritocracia é: “um sistema de governo ou outra organização que considera o mérito (aptidão) a razão para se atingir determinada posição.” “Em sentido mais amplo pode ser considerado uma ideologia. As posições hierárquicas são conquistadas, em tese, com base no merecimento e entre os valores associados estão educação, moral, aptidão específica para determinada atividade. Em alguns casos, constitui-se em uma forma ou método de seleção”.
As organizações e governos que utilizarem-se da meritocracia como guia de seus códigos de ética e conduta poderiam se considerarem superiores em eficácia, eficiência, sobretudo, em excelência, pois onde há os melhores funcionários, os mais engajados, os mais apropriados e preparados, são os mais responsáveis pelo crescimento, seja econômico, educacional, social, sendo um diferencial em um país de dinheiro na cueca, puxa-saquismo e clientelismo. Todavia, Belchior, sempre tão atual já disse: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não, você diz que depois deles não apareceu mais ninguém, você pode até dizer que estou por fora, ou então que estou inventando, mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.