terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sobre o amor e a caridade



Andei pensando sobre o amor, daí perguntei a alguém o que era o amor, e ele respondeu que depende. Pode ser amor de mãe, amor de irmão, amor marital, sexual, enfim, não dá para responder o que é o amor.  Segundo o dicionário Aurélio, amor é, entre tantos significados: Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa, sentimento intenso de atração entre duas pessoas, ser que é amado, disposição dos afetos para querer ou fazer o bem a algo ou alguém, entusiasmo ou grande interesse por algo, ligação intensa de caráter filosófico, religioso ou transcendente, grande dedicação ou cuidado. Ahhh o amor! Tema tão discutido desde a antiguidade até hoje. O amor fraternal, o amor romântico.
De acordo com a bíblia, sobretudo, I coríntios 13, o amor deve a tudo suportar, tudo esperar, tudo crer. Deve ser sofredor e bom, não deve ser invejoso e não se irritar. O amor pensa no outro e não busca os seus interesses.  O amor deve ser justo e verdadeiro.  Vivemos em um mundo, tenho a impressão, desistente do amor. É tão difícil amar, que é melhor não amar. Porque, para amar eu preciso ver o interesse do outro e não o meu, eu tenho que usar da justiça, mesmo sendo maléfico para mim mesmo.  Tenho que ser verdadeiro, mas não é aquele verdadeiro que diz tudo na cara, que magoa as pessoas, mas simplesmente aquele vive na verdade. É, parece mesmo que deixamos de amar. Hoje nos apaixonamos e pronto, sem comprometimento. Amamos nossos pais, até porque eles nos amam incondicionalmente, assim é bem fácil.
Falar de amor é falar de humanidade. E quando toco neste assunto lembro-me de um personagem e um episódio. O personagem que lembro é Zaratustra, poeta de Nietzsche, que dizia que nós somos egoístas por instinto. O que há de amor e caridade é nada mais nada menos do que máscara social que usam os mais hipócritas. Pensei muito a respeito do pensamento deste Zaratustra. Pensei tanto, que passei a acreditar que tudo o que eu fazia era apenas por mim, nada e nunca por benefício de outrem. Mas depois de um longo tempo racionalizei e pensei novamente, se o egoísmo é instinto, a bondade deve ser também. E lembrei-me de muitos outros filantrópicos, Madre Tereza de Calcutá, Gandhi, São Francisco, enfim, a lista felizmente é grande. Mas sem rodeios, vou falar sobre o episódio. Um dia fui à missa assistir a uma homilia de um Pe. Doutor em filosofia. Esperava os conceitos mais racionais, e raciocináveis, porém, o que mais me marcou, e lembro até hoje disso não foi complexo ou retórico, foi o que de mais simples existe e disse: “as pessoas estão buscando a santidade, mas passam por uma calçada vêem um pobre faminto, e ficam alheias”. Estas mesmas não se indignam com a injustiça social, aliás, muitos são alpinistas sociais. Passam e vêem pessoas não só desnutridas de alimentação, mas de esperanças de um mundo melhor, mais justo. Passam por jovens sedentos por conhecimento, mas com inchadas nas mãos. Mulheres com fome de cultura, mas com uma trouxa de roupas nas costas para lavar e ganhar o seu dia. E o que fazem, o máximo que querem é garantir o seu. Ele completou que antes de querer ser santos, devemos ser mais humanos, e parar para olhar essas coisas, que são sim de nossa responsabilidade, pois até na hora da escolha dos nossos representantes devemos nos lembrar de tudo isso. A lição: tentar ser humano.
Mas voltando ao início do texto em que cito um trecho da bíblia, no mesmo texto diz que mesmo eu possuindo o dom das profecias, o dom de todos os mistérios e toda ciência. Se tivesse toda fé, se não tivesse amor de nada valeria. E no fim ainda diz que tudo cessará, mas não o amor. E contextualizando, vi uma frase que me chamou atenção: "Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, aí sim eles verão que dinheiro não se come”. Pois é, o dinheiro também acaba, e a nossa carne vai ser servida aos vermes, a única coisa que deixaremos será, talvez, uma boa lembrança de que fizemos algo de útil por amor, arte rara da contemporaneidade.

domingo, 25 de novembro de 2012

Mudança, quem tem medo dela?


Vivemos bitolados em um mundo tão controlador, que fechamo-nos, ficamos inacessíveis, nos desconhecemos completamente, chegando a nos tornar meras máquinas, que vez ou outra precisa de um up-date, uma varredura, um escaneamento. Mas em que momento paramos para pensar em/e sobre nós mesmos?
A maioria das pessoas, além de não se auto-analisarem, sequer se importam com isso, vivem uma vida tão medíocre, tão rasa, tão superficial, que simplesmente não entendo, como conseguem ser pessoas felizes. Mas ao viver um pouco dessa vida eu entendi o porquê da mediocridade, da falta de interesse em querer saber quem são. Nós ficamos tão atolados com o que o mundo nos impõe ou apresenta, que nos rendemos a ser meras máquinas.
Funciona da seguinte maneira: O computador é ligado, executa demasiadamente todas as funções manobradas pelo sujeito humano, o estabilizador esquenta, e percebe-se que está na hora de desligar, caso contrário, é preciso substituir a máquina, pois algum dos seus componentes começa a falhar. Começa pela memória, ela fica desgastada, e é neste momento que se compra outra com mais gigabytes. A ventoinha para de “ventar” a máquina esquenta, e é preciso trocá-la. Inúmeros vírus se instalam e é feito um escaneamento, porém, acaba-se perdendo documentos importantes, então, quando é a placa-mãe, o pensamento do técnico em informática é o seguinte: quando a placa mãe para de funcionar, o melhor mesmo é trocar por outra máquina, no entanto, para redução de custos compra-se uma nova placa mãe, e a máquina vai arduamente fazendo seu trabalho diário.
O processo então é muito simples, é igual ao que estudamos na escola: a gente nasce, cresce, amadurece, reproduz e morre. E num pensamente cartesiano vivemos nossa vida mecanicista. A gente estuda e trabalha demasiadamente durante todo o dia, a gente chega em casa às 22hrs cansados. A gente toma um banho, come algo e dorme. Chega um momento que a memória começa a falhar e começamos a usar agendas. Logo em seguida vêm os problemas gastrointestinais oriundos de uma má alimentação, fazemos dietas. Por conseguinte, a baixa-imunidade possibilitando a facilidade de diversas doenças se instalarem. Com isso paramos de sermos produtivos, e os técnicos acham que é melhor a substituição, porém, é alto o custo de novas aquisições, e a máquina humana vai arduamente fazendo seu trabalho diário.
Será que as máquinas humanas começaram a darem conta de si mesmas? Será que elas se conhecem? Será que elas entendem que o pânico que sentem, o medo, o terror são oriundas de algo dentro delas, e que somente elas sabem? Será que as máquinas humanas vão olhar dentro de si e parar de enxergar veias, artérias, rins e fígados para enfim começarem a perceberem que tudo começa no cérebro, isso que chamamos de coração, e outros ainda chamam de alma?
Eu, como máquina humana não entendia o terror, o medo que sentia. Aquela sensação tão estranha de tentar fazer algo e nunca conseguir sair do ciclo: faculdade, trabalho e carreira. E por apenas um curto período vivenciando esse processo mecanicista, automático, não percebia que me fechava, que não me permitia ser eu mesma, mas ser aquilo que todos querem ser: o profissional bem sucedido ganhando bem, bem casado, com filhos e uma casa linda. Eu estava me perdendo de mim, do eu mais autêntico, do eu mais original, mais criativo, mais intuitivo, e principalmente, do eu feliz.
Nós temos medo da mudança, e que mudança extrema é a de deixar de sermos os outros para nos tornarmos nós mesmos. E que mais difícil, neste mundo tão cruel, nesta carnificina profissional, perceber-se a si mesma, saber-se, e descobrir-se. O medo da mudança é, sobretudo, o medo de não ter nada dentro de nós mesmos, além daquilo que nos fizeram ser. Este é o terror do humano máquina, querer ser humano e não saber-se tão genuinamente, tão intrinsecamente, tão “eumesmamente” e saber separar o mundo, a sociedade, que espera e cria expectativas a julgá-lo um nada. O medo que temos de mudar, talvez seja esse, sair da linha reta, do caminho traçado, e tentar ser feliz com o que se tem.