domingo, 25 de novembro de 2012

Mudança, quem tem medo dela?


Vivemos bitolados em um mundo tão controlador, que fechamo-nos, ficamos inacessíveis, nos desconhecemos completamente, chegando a nos tornar meras máquinas, que vez ou outra precisa de um up-date, uma varredura, um escaneamento. Mas em que momento paramos para pensar em/e sobre nós mesmos?
A maioria das pessoas, além de não se auto-analisarem, sequer se importam com isso, vivem uma vida tão medíocre, tão rasa, tão superficial, que simplesmente não entendo, como conseguem ser pessoas felizes. Mas ao viver um pouco dessa vida eu entendi o porquê da mediocridade, da falta de interesse em querer saber quem são. Nós ficamos tão atolados com o que o mundo nos impõe ou apresenta, que nos rendemos a ser meras máquinas.
Funciona da seguinte maneira: O computador é ligado, executa demasiadamente todas as funções manobradas pelo sujeito humano, o estabilizador esquenta, e percebe-se que está na hora de desligar, caso contrário, é preciso substituir a máquina, pois algum dos seus componentes começa a falhar. Começa pela memória, ela fica desgastada, e é neste momento que se compra outra com mais gigabytes. A ventoinha para de “ventar” a máquina esquenta, e é preciso trocá-la. Inúmeros vírus se instalam e é feito um escaneamento, porém, acaba-se perdendo documentos importantes, então, quando é a placa-mãe, o pensamento do técnico em informática é o seguinte: quando a placa mãe para de funcionar, o melhor mesmo é trocar por outra máquina, no entanto, para redução de custos compra-se uma nova placa mãe, e a máquina vai arduamente fazendo seu trabalho diário.
O processo então é muito simples, é igual ao que estudamos na escola: a gente nasce, cresce, amadurece, reproduz e morre. E num pensamente cartesiano vivemos nossa vida mecanicista. A gente estuda e trabalha demasiadamente durante todo o dia, a gente chega em casa às 22hrs cansados. A gente toma um banho, come algo e dorme. Chega um momento que a memória começa a falhar e começamos a usar agendas. Logo em seguida vêm os problemas gastrointestinais oriundos de uma má alimentação, fazemos dietas. Por conseguinte, a baixa-imunidade possibilitando a facilidade de diversas doenças se instalarem. Com isso paramos de sermos produtivos, e os técnicos acham que é melhor a substituição, porém, é alto o custo de novas aquisições, e a máquina humana vai arduamente fazendo seu trabalho diário.
Será que as máquinas humanas começaram a darem conta de si mesmas? Será que elas se conhecem? Será que elas entendem que o pânico que sentem, o medo, o terror são oriundas de algo dentro delas, e que somente elas sabem? Será que as máquinas humanas vão olhar dentro de si e parar de enxergar veias, artérias, rins e fígados para enfim começarem a perceberem que tudo começa no cérebro, isso que chamamos de coração, e outros ainda chamam de alma?
Eu, como máquina humana não entendia o terror, o medo que sentia. Aquela sensação tão estranha de tentar fazer algo e nunca conseguir sair do ciclo: faculdade, trabalho e carreira. E por apenas um curto período vivenciando esse processo mecanicista, automático, não percebia que me fechava, que não me permitia ser eu mesma, mas ser aquilo que todos querem ser: o profissional bem sucedido ganhando bem, bem casado, com filhos e uma casa linda. Eu estava me perdendo de mim, do eu mais autêntico, do eu mais original, mais criativo, mais intuitivo, e principalmente, do eu feliz.
Nós temos medo da mudança, e que mudança extrema é a de deixar de sermos os outros para nos tornarmos nós mesmos. E que mais difícil, neste mundo tão cruel, nesta carnificina profissional, perceber-se a si mesma, saber-se, e descobrir-se. O medo da mudança é, sobretudo, o medo de não ter nada dentro de nós mesmos, além daquilo que nos fizeram ser. Este é o terror do humano máquina, querer ser humano e não saber-se tão genuinamente, tão intrinsecamente, tão “eumesmamente” e saber separar o mundo, a sociedade, que espera e cria expectativas a julgá-lo um nada. O medo que temos de mudar, talvez seja esse, sair da linha reta, do caminho traçado, e tentar ser feliz com o que se tem.

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