Vivemos bitolados em um mundo tão
controlador, que fechamo-nos, ficamos inacessíveis, nos desconhecemos
completamente, chegando a nos tornar meras máquinas, que vez ou outra precisa
de um up-date, uma varredura, um escaneamento. Mas em que momento paramos para
pensar em/e sobre nós mesmos?
A maioria das pessoas, além de
não se auto-analisarem, sequer se importam com isso, vivem uma vida tão medíocre,
tão rasa, tão superficial, que simplesmente não entendo, como conseguem ser
pessoas felizes. Mas ao viver um pouco dessa vida eu entendi o porquê da
mediocridade, da falta de interesse em querer saber quem são. Nós ficamos tão
atolados com o que o mundo nos impõe ou apresenta, que nos rendemos a ser meras
máquinas.
Funciona da seguinte maneira: O
computador é ligado, executa demasiadamente todas as funções manobradas pelo
sujeito humano, o estabilizador esquenta, e percebe-se que está na hora de
desligar, caso contrário, é preciso substituir a máquina, pois algum dos seus
componentes começa a falhar. Começa pela memória, ela fica desgastada, e é neste
momento que se compra outra com mais gigabytes. A ventoinha para de “ventar” a
máquina esquenta, e é preciso trocá-la. Inúmeros vírus se instalam e é feito um
escaneamento, porém, acaba-se perdendo documentos importantes, então, quando é
a placa-mãe, o pensamento do técnico em informática é o seguinte: quando a
placa mãe para de funcionar, o melhor mesmo é trocar por outra máquina, no
entanto, para redução de custos compra-se uma nova placa mãe, e a máquina vai
arduamente fazendo seu trabalho diário.
O processo então é muito simples,
é igual ao que estudamos na escola: a gente nasce, cresce, amadurece, reproduz e
morre. E num pensamente cartesiano vivemos nossa vida mecanicista. A gente
estuda e trabalha demasiadamente durante todo o dia, a gente chega em casa às
22hrs cansados. A gente toma um banho, come algo e dorme. Chega um momento que
a memória começa a falhar e começamos a usar agendas. Logo em seguida vêm os
problemas gastrointestinais oriundos de uma má alimentação, fazemos dietas. Por
conseguinte, a baixa-imunidade possibilitando a facilidade de diversas doenças
se instalarem. Com isso paramos de sermos produtivos, e os técnicos acham que é
melhor a substituição, porém, é alto o custo de novas aquisições, e a máquina
humana vai arduamente fazendo seu trabalho diário.
Será que as máquinas humanas
começaram a darem conta de si mesmas? Será que elas se conhecem? Será que elas
entendem que o pânico que sentem, o medo, o terror são oriundas de algo dentro
delas, e que somente elas sabem? Será que as máquinas humanas vão olhar dentro
de si e parar de enxergar veias, artérias, rins e fígados para enfim começarem
a perceberem que tudo começa no cérebro, isso que chamamos de coração, e outros
ainda chamam de alma?
Eu, como máquina humana não
entendia o terror, o medo que sentia. Aquela sensação tão estranha de tentar
fazer algo e nunca conseguir sair do ciclo: faculdade, trabalho e carreira. E por
apenas um curto período vivenciando esse processo mecanicista, automático, não
percebia que me fechava, que não me permitia ser eu mesma, mas ser aquilo que
todos querem ser: o profissional bem sucedido ganhando bem, bem casado, com
filhos e uma casa linda. Eu estava me perdendo de mim, do eu mais autêntico, do
eu mais original, mais criativo, mais intuitivo, e principalmente, do eu feliz.
Nós temos medo da mudança, e que
mudança extrema é a de deixar de sermos os outros para nos tornarmos nós mesmos.
E que mais difícil, neste mundo tão cruel, nesta carnificina profissional,
perceber-se a si mesma, saber-se, e descobrir-se. O medo da mudança é,
sobretudo, o medo de não ter nada dentro de nós mesmos, além daquilo que nos
fizeram ser. Este é o terror do humano máquina, querer ser humano e não
saber-se tão genuinamente, tão intrinsecamente, tão “eumesmamente” e saber
separar o mundo, a sociedade, que espera e cria expectativas a julgá-lo um
nada. O medo que temos de mudar, talvez seja esse, sair da linha reta, do
caminho traçado, e tentar ser feliz com o que se tem.

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