domingo, 22 de dezembro de 2024

Retrospectiva de leituras 2024

 Eu nunca tive o hábito de ler. A literatura surgiu em minha vida praticamente no fim da adolescência por influência das amigas. Mas desde que tive o primeiro contato com a imensa dimensão do mundo literário, me apaixonei, lia o que tivesse. Gostava de algumas leituras e de outras mais ou menos. Mas sempre lendo. 

Tenho até hoje anotações dos livros que li na minha adolescência, livros clássicos que pedia emprestado na biblioteca. Não, nunca foi exigência da escola para o vestibular, na minha época a escola não estava atenta a esse detalhe.

Quando engravidei de Mariana, devido ao cansaço próprio da gravidez, praticamente parei de ler. Depois que ela nasceu então, não li mais nada. Depois de uns dois anos, fui voltando aos poucos. 

Parar esse tempo me fez experimentar a secura da vida normal e cotidiana do adulto, costumo brincar dizendo que sai da adolescência quando Mari nasceu. Talvez tenha sido isso, abandonei um pouco da inocente viagem que fazia através da leitura. 

Com a pandemia, a secura aumentou significativamente, era realidade nua e crua demais para uma pessoa um tanto pessimista e sonhadora ao mesmo tempo.

Em 2022 quis forçar voltar o hábito da leitura colocando uma meta de 12 livros por anos. Desde então não parei mais. De lá pra cá a minha cabeça rodopiou varias vezes. Mergulhei em reflexões do mais profundo âmago, com Clarice Lispector, enxerguei por olhos e vivências que não eram minhas e chorei com Conceição Evaristo, dei risada com humor de Douglas Adams, viajei pela segunda guerra mundial por olhos que não podiam enxergar com Anthony Doerr, me revoltei e me entristeci com a visão de mundo de Byung-Chul Han, aprendi um tanto de escuta com Platão e outro tanto de estoicismo com Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto. Lembrei-me da realidade sertaneja/agrestina em que coexisto e que permeia minha vivência e meu jeito de estar no mundo com Graciliano Ramos. Fiquei encantada com a pesquisa sobre feminismo de Valeska Zanello, conheci o percurso que fez Simone de Beauvoir até chegar a ser precursora do feminismo e da filosofia existencialista, viajei para história política do Chile com um romance de tirar o fôlego com Isabel Allende e por fim redescobri com Rosa Montero que estar lúcida demais não é nada saudável para quem tem um espírito de viajante. 

As pessoas mais práticas devem se perguntar: mas esses livros serviram para o que? Qual foi o rendimento obtido? Ajudou profissionalmente? Ajudou pessoalmente? Afinal, tudo que fazemos deve ser monetizado não é? Pois bem, não é pra ter serventia, inclusive algumas leituras me tiraram até o prumo das ideias. A leitura é para viajar para além de mim e conversar todo dia um pouquinho com essas mentes geniais, e me ensinar a não me contentar com a secura da vida, e abenxergar um certo charme em tudo, em observar o mundo de tantas lentes. E saber que temos uma espécie de refúgio, uma Pasárgada onde você é amiga do Rei.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O idealista e o coveiro

Você é idealista? Bem, eu sou, possuo em mim um vasto mundo, dentro de mim o mundo das ideias é engendrado e sofre querendo ser gestado e parido.

Dentro desse mundo ideal, as pessoas são honestas, com os outros e consigo mesmas, são empáticas, sim elas conseguem olhar o outro através de olhos que não são seus, de vivências que não são suas, de costumes e culturas diferentes das quais aprendeu em seu meio.

Nesse mundo das ideias, além das contidas e inseridas conforme o meio, existem as inseridas através das leituras, não só leituras de letras escritas, palavras em livros, mas leitura de mundos, diversos outros mundos das ideias de outros diversos seres cheios de ideias gestadas e paridas.

Djamila Ribeiro diz em seu livro Pequeno Manual Antirracista “Fala-se muito em empatia, em colocar-se do lugar do outro, mas empatia é uma construção intelectual, ética e política”, então no meu mundinho das ideias a empatia não se alcança quando digo que sou empático, mas quando enxergo que não sou e tento conhecer, enxergar esses tantos mundos e me colocar como aprendiz de mundos.

Mas voltando ao mundo do idealista, ele se enche de coisas, o idealista ler livros sobre um mundo melhor, não um mundo melhor para ele, mas para todos, e ele não sente pena dos outros, ele sente pena de si mesmo e de sua ignorância, ele adentra em outros mundos como mero expectador, ele ler as linhas escritas de Simones, Djamilas, Bells, Conceições, Valeskas, Isabeis, Clarices, Machados, Joses, Chicos, Vivianes, Itamares, Andrews, dentre tantos outros mundos possíveis, e ele se vê pequeno, um mundo bem pequenininho, sem alcance, sem visão, sem ideias gestadas e paridas, só ideias.

Mas ele, a partir de tantas outras ideias imagina um mundo colocando em prática todas as ideias de tantos mundos das ideias de tanta gente genial e cheias de ideias, e ele faz igual Jonh Lennon e sonha, escreve e faz uma música. Daí outros idealistas gostam da letra, cantam a música e sonham juntos e gestam e dão a luz a novas ideias, boas ideias.

Mas tem lugares que não dá para ser idealista, tem lugares, que são iguais ao filme o poço. Aliás, sinto dizer que tem lugares para ser idealistas, todos os outros não dão pra ser. Sobra poucos lugares para os idealistas, a poesia, a música, a literatura, a filosofia. Os demais lugares estão ocupados em suprimir ideias, em enterrar ideias e enterrar pessoas também, se essas têm ideias demais da conta.

Aos idealistas um conselho: não se demorem em lugares e pessoas tipo coveiro, eles são especialistas em enterrar pessoas, expectativas, sonhos, músicas de Elton Jonh, livros de Conceição Tavares, mundos diferentes, olhares empáticos, visões de mundo além do necessário.

            Lugares e pessoas tipo coveiro, não são idealistas, aliás, um dia foram, quando crianças, mas foram engolidas por lugares e pessoas tipo coveiro. Pessoas não idealistas, ao contrário odeiam o mundo das ideias, gostam do mundo prático: Não serve? não vai dar lucro? não vai produzir? A amizade não serve de networking? não terá algum retorno? Atrapalha o caminho? Ok, então joga fora e descarta. O mundo do não idealista não é para ser vivido, degustado, é para suprir necessidades. O não idealista, confundo muito com pessoas narcisistas, mas nem sou psicóloga para fazer diagnostico, então, prefiro chama-lo de pessoa tipo coveiro, ele só serve para fazer o necessário e as vezes o necessário é só enterrar. 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Você é, eu sou

 

“Humano, demasiado humano”. “O homem é essencialmente mau”. Duas frases marteladas por Nietzsche e Hobbes. Para esses filósofos somos essencialmente maus, nascemos cruelmente inatos. A sociedade com suas regras, leis, religiões, sistemas morais, nos retira a barbárie e nos civiliza.

              Pois bem, então já que somos todos maus, estamos apenas fingindo bondade para viver confortavelmente em sociedade? Não, não é bem assim. Para Nietzsche, nós não temos consciência de nossa maldade, nos acreditamos bons, pois somos guiados por regramentos, sobretudo da religião, que nos diz que passos seguir e assim seremos bons, seremos recompensados, caso contrário, iremos para o inferno, seremos maus.

              Severino, um homem bondoso, vai à missa todos os domingos, paga o dízimo fielmente, faz caridade, é fiel à esposa, trabalhador, sustenta sua família, portanto, um homem bom. Ele também fica feliz em ver vídeos de pessoas sendo torturadas na internet, comemora a morte de crianças pretas, pois já previu que ia crescer e virar bandido mesmo. Ele é contra políticas de bem-estar social, como bolsa família, cotas para negros e pessoas com deficiência. Fica extremamente irritado quando vê notícias sobre o assunto e é capaz de acreditar nas mais esdrúxulas notícias quando vai de encontro com suas ideias e valores.

              Marieta, uma mulher bondosa, vai ao culto toda semana, participa de projetos sociais, serve sopão todo sábado, boa mãe, boa esposa, cuida da casa, cuida da aparência, defende uma alimentação saudável e exercícios, uma boa mulher. Marieta, assim como Severino, odeia políticas públicas distributivas, faz campanha contra o aborto, mas ignora crianças já nascidas, inclusive comemora quando a polícia invade a favela e quando mata criança, explica que é apenas dano colateral. Ela odeia feministas, ensina seus filhos que ser homossexual é pecado, mas que respeita?!

              Severino e Marieta são pessoas benquistas na sociedade, são mães e pais queridos, são tias e tios queridos, são irmãos adorados. Pessoas respeitáveis, direitas, trabalhadoras, bem-sucedidas. São cidadãos de bem.

              Porém, Severino e Marieta, são incapazes de enxergar a maldade em si mesmas. Se indagados sobre ser a favor de tortura, explicam que o são devido a uma questão de justiça, afinal, o bandido mereceu. Se perguntamos o porquê de perseguir o outro, responderão que estão tentando proteger os seus, afinal, sua família, seus filhos, seus amigos não precisam e não podem vivenciar um mundo tão deturpado, estão apenas limpando o ar, higienizando o ambiente, tentando fazer do mundo um lugar melhor.

              Afinal, quem consegue enxergar a maldade de Severino e Marieta se eles mesmo não enxergam? O outro. O inferno são os outros disse Jean-Paul Sartre. O outro sabe que Severino e Marieta são essencialmente maus, que a perseguição a empregada, que a humilhação ao subordinado, que a falta de empatia, os jogos de poder são oriundos da maldade humana, ela é que demasiada humana.

              Jean-Jacques Rouseau propõe uma visão diferente: o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Sendo assim, Severino e Marieta são apenas fruto do meio. Esse desejo mórbido de ver o outro em maus bocados foi aprendido. Se eles tivessem sido criados por uma família amorosa, empática, respeitosa e que sente compaixão pelo outro, talvez não teriam tais sentimentos ou não teriam tais ações.

              As ciências humanas ainda não encontraram uma resposta definitiva. O que temos são defensores de uma proposta ou de outra. Além disso temos também os defensores da importância da genética no comportamento humano.

              Eu particularmente acredito em um pouco de cada, uma visão pessoal mesmo, baseada no senso comum e vulgar. Entretanto, acredito que temos a capacidade de ver além. A filosofia tem grande importância nesse olhar mais aguçado sobre nós mesmos. O papel da filosofia é martelar. Martelar o oco e a escuridão da falta de reflexão e autorreflexão. Martelar a escuridão para iluminar com questionamentos. Imaginem então um martelo batendo forte em suas cabeças!! Deve doer né? É assim a filosofia, martelar e fazer doer, bater forte para fazer você enxergar o que estava escondido.

              Se nascemos bons e fomos corrompidos ou se já nascemos maus, não interessa muito nessa reflexão. A honestidade das ideias, a consciência, a iluminação de olharmos para dentro de nós mesmos com uma lamparina, como instiga Diógenes, o cínico, e enxergarmos muito além do bem e do mal, isso sim interessa.

              Quem combate monstros precisa tomar cuidado para que isso não o torne um monstro. Se você olha muito tempo para dentro do abismo, o abismo também começa a olhar dentro de você. Friedrich Nietzsche.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

E eu, o que tenho a ver com isso?





O que você faria com aquela safada, perguntou a mulher que fora traída.
- Eu daria um belo de um chute.
Respondeu sua amiga.
- Já eu a seguraria pra você chutar, querida.
Completou a irmã da mulher traída.
- Bem, eu a levaria para o mar e colocaria sua cabeça dentro d’água até ela implorar por perdão, sugere outra.
Depois de toda essa conversa, a prima da mulher traída dá um chacoalho e trás todas de volta a civilidade.
- Nossa! Como somos más!
A verdade é que nenhuma delas realizaria de fato todas essas torturas, ninguém desse grupo de garotas teria coragem de fazer quaisquer desses atos.
Mas não se enganem, elas não cometeriam tais atos por serem pessoas boas, mas porque no momento em que surge o pensamento animalesco de revidar, vingar, destruir, matar, agredir, entra em cena o superego.
Superego é uma estrutura mental designada por Freud, que “tem a função de conter os impulsos do id. Suas regras sociais e morais não nascem com a gente: nós a aprendemos na sociedade para que possamos conviver nela corretamente”.
O id, por sua vez, é o impulso, o animal dentro de nós “responsável pelos nossos impulsos mais primitivos: as paixões, a libido, a agressividade”.
O superego, como dito anteriormente, é responsável por barrar o id, é o que nos faz conviver bem em sociedade.
Para convivermos bem em sociedade, devemos ser civilizados. Civilizado deriva de civile, aquele que habita na cidade.
O contrário de civilizado é o bárbaro. Bárbaros são guerreiros que vivem em tribos distantes da cidade (civile), são brutos, cruéis e belicosos.
Bem, toda essa embromação para falar sobre nós, os seres humanos.
O que de fato somos sem máscaras e formalidades, conforme Freud, apenas um bando de bárbaros. Uns animais racionais, mas animais. Que pensamos coisas bárbaras, mas por sermos civilizados e convivermos bem, termos boa reputação, reprimimos e domamos esses pensamentos.
Porém, há quem seja bárbaro e não necessariamente viva em aldeias ou tribos. Há “civilizados” em aldeias e “bárbaros” na cidade.
Nas redes sociais observo muito do animal emergindo. A rede social é uma espécie de máscara. Ninguém o conhece, ninguém o condena. É apenas um perfil falso, um fake e deles saem as maiores ‘barbaridades’, desde as “aceitáveis” até as nem tão aceitáveis assim.
- negros voltem pra senzala!
- gays voltem pros armários!
- mulheres voltem pra cozinha!  
(suavizei)
Ou então aqueles que acham que a solução para melhorar a sociedade seria uma higienização social, tal qual já fez Hitler e muitos outros também.
“bandido bom é bandido morto” bradam com uma convicção vinda sei lá de onde. Talvez do seu animal mais íntimo, e com aval de outros muitos.
O “cidadão” de bem linchou o bandido até a morte. Ele confundiu, não era bandido. Quem é bandido agora?
A verdade é que estamos recebendo uma avalanche de máximas desse tipo, quer seja nas redes sociais quer seja nas ruas em forma de violência gratuita.
A emoção e o instinto falam mais alto. “manda prender esses bandidinhos”, “e se ele estuprasse sua filha” fala a voz da emoção, da vingança. “Joga pedra na Geni, joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni”.
O que diferencia o civilizado do bárbaro, entretanto, é o uso da razão. Só através do raciocínio lógico, crítico e autocrítico é que se pode conter impulsos e trazer a tona uma visão holística, uma visão do todo e não só das partes.  Descartes disse: Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.
A indignação é justa, mas não se resolve com ódio. O problema de segurança não se resolve com vingança. A discriminação com as classes minoritárias não irá acabar só por que você finge que ela não existe.  O respeito mútuo só é possível com civilidade. E o mal não precisa de plateia.



P.S. Quando lerem “animais”, por favor, não pensem em seus cachorrinhos saltitantes e seus gatinhos manhosos. :D

sábado, 7 de setembro de 2013

PARABÉNS BRASIL

Um dia de grande comemoração para a população brasileira. Dia 7 de setembro, vamos comemorar todos juntos, com a mão no peito, cantando hinos. Desfilando nosso orgulho de sermos brasileiros, nas ruas das cidades, na capital do país.
É o dia de lembrarmos que já fomos dependentes. Porém lutamos, contra Ingleses, Holandeses e Portugueses. Foram anos de guerra até conseguirmos nossa grande Independência. Sim essa nossa grande independência.
Um amigo, Márcio, falou-me certa vez dos significados do número sete. Disse que sete é um número cabalístico. Sendo agora mais explicativa, “Cabala, além de seu sentido genérico de tradição oral -- as interpretações dos textos sagrados, expressos na torah shebeal pe (doutrina oral) -- é um conjunto de preceitos e especulações místico-esotéricas da filosofia religiosa judaica, sob a influência de outras doutrinas.”. Foi em sete dias que Deus criou o mundo, sete dias tem uma semana, antigamente setembro era o mês sete, daí setembro. Era também o mês que na Europa dava-se início à época das vacas magras, pois o inverno se aproximava. Sete dias é o tempo que demora cada fase da lua. E Jesus disse: "Deves perdoar setenta vezes sete" Sete é um número perfeito. Daí tudo se explica e se aplica ao nosso País. É um país perfeito.
E se nossa independência tivesse ocorrido dia 8 de setembro, ai tudo ia ser diferente. Não seríamos o país das maravilhas. Haveríamos de ter mensalões para políticos corruptos, fábricas de cuecas especializadas em couro, para maior resistência e durabilidade. Teríamos políticos condenados pedindo aposentadoria por invalidez. Como também os mesmos condenados livrados da cassação, porque seus colegas deputados são tão legais, que não cassaram o mandato do coitadinho. Bem como, políticos, nossos representantes presos ao país, pois se colocar o pé fora, a INTERPOL poderia imediatamente prender.  Já pensou como seria se fosse OITO de setembro, talvez os políticos, familiares, iriam criar empresas fantasmas, fraudar licitações, ter contas em paraísos fiscais. Seríamos um País subdesenvolvido, veríamos crianças passando fome. Conheceríamos um fenômeno típico deste tipo de governo, o Coronelismo, quem sabe também existiriam políticos paternalistas e populistas. Íamos vender parte do nosso patrimônio a preço de banana, imaginem só, nosso país tão rico e tão próspero sendo vendido a preço de banana para multinacionais, chega a ser até chocante pensar isso.
Entretanto, ainda moramos na famosa Pasárgada de Manoel Bandeira. Pois graças aos números da cabala, escolhemos o dia certo: SETE DE SETEMBRO. Melhor ainda, não foi um brasileirinho qualquer que nos proclamou independentes, e sim um grande português que nos quis tanto bem: D. Pedro I. esse sim merece todo nosso respeito, como dedico todo respeito aos Grandes presidentes que fizeram nossa história.


domingo, 21 de julho de 2013

Construindo conhecimento

É inquestionável que somos produtos do meio, que existem milhões de fatores que nos levam a possuir uma opinião, um ideal, um conceito, uma escolha. O primeiro referencial são nossos pais, deles herdamos o que define nosso comportamento. Depois vem os vizinhos, os colegas de escola, os professores, os primeiros amigos, e talvez nesse momento é que começamos a colocar em prática a dialética hegeliana quando comparamos o que nossos pais nos ensinaram com o que os amigos, os professores e outros fatores externos contrapõem.
Estudando sobre influenciação de lideranças (assunto da área de administração) conheci as formas: coação, persuasão, sugestão e emulação.
O comportamento humano é extremamente complexo, e por isso os graus de influenciação são aceitos de formas diferentes de acordo com as peculiaridades do ser humano. Há pessoas que funcionam bem sob a coação, outras pela sugestão. Há aqueles que para influenciar utilizam-se da emulação. Emulação é quando o influenciador tenta igualar-se ou ficar quase parecido com o interlocutor, ou seja, para conseguir influenciar uma pessoa, é preciso pensar de forma igual, com linguagens e posturas parecidas. Outra forma, a persuasão, é quando o influenciador usa de argumentos plausíveis para tentar convencer o interlocutor. Em se falando de argumento é importante diferenciá-lo de opinião, de achismos, pois argumentos são proposições em que há premissas verdadeiras e um resultado ou conclusão verdadeira ou falsa.
Um exemplo de argumento:
Premissa 1 - vitamina C é um antigripal infalível.
Premissa 2 – Joana toma vitamina C todos os dias.
Conclusão – Joana não ficará com gripe.

Esse é um argumento válido, verdadeiro, tendo em vista que a conclusão está de acordo com as premissas.

Ou:
Premissa 1 - vitamina C é um antigripal infalível.
Premissa 2 – Joana toma vitamina C todos os dias.
Conclusão – Joana mesmo assim ficou com gripe.

Percebe-se que a conclusão não é válida. Pois em uma das premissas diz que vitamina C é um antigripal infalível.  

Então, logicamente, o interlocutor será obrigado a concordar ou discordar de acordo com os argumentos utilizados pelo influenciador. Acontece que, quando o sujeito não conhece ou não se interessa pela contraposição, ele certamente irá de imediato concordar com o influenciador, pois não possuía argumentos para destruir ou invalidá-lo.
É nesse momento que a dialética hegeliana entra em cena. De acordo com Hegel, é preciso conhecer a ideia, contrapô-la e logo após formar um novo conhecimento, uma nova ideia. É formada pela tese, antítese e síntese. De forma bem simples, a tese é a afirmação inicial, a antítese é a oposição à tese, e deste conflito nasce a síntese, que é o novo conhecimento, nova faceta da afirmação inicial. Conforme Hegel “este processo de contradição e desenvolvimento é inerente à realidade histórica e ao pensamento, e que o exercício dessas contradições necessariamente conduz a estágios mais elevados.”
É assim que está se fazendo a construção do conhecimento, por isso que sempre vai crescendo em estágios contínua e infinitamente.
Diz Descartes, em sua obra O discurso do método que “Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.”
Ótima leitura para quem quer iniciar no mundo da Filosofia, pois em toda a evolução do livro ele questiona a validade do pensamento, e um bom filósofo sempre duvida de tudo (risos). Dizia ainda que até os nossos pensamentos podem nos enganar, inclusive, que o homem não possui ideia ou pensamento perfeito.
A construção do conhecimento é árdua e nada fácil. Se formos nos atinar a isso diariamente ficamos até receosos de ter opinião com medo de estarmos sendo enganado pela nossa própria ideia ou pensamento. E por isso que não devemos ter medo de mudar de opinião, mesmo que diariamente, pois é assim que se constrói o conhecimento.
Aí eu pergunto: Você pretende ser o influenciador, o construtor de conhecimento ou o agente passivo puramente resultado do meio?


domingo, 2 de junho de 2013

Você mandou eu escrever

Às vezes penso que seja necessário um quê de razão na hora de escrever. Nunca devemos escrever quando estamos tomados por sentimentalismos, isso atrapalha a ordem dos pensamentos. Escrever levado por impulso atrapalha também no esclarecimento das ideias.
Quando entramos na faculdade, aprendemos que no modelo científico devemos ter referencial teórico para defender qualquer que seja ideia ou pensamento. Por exemplo, eu posso dizer que é necessário nas empresas haver boas relações humanas, qualidade de vida, boas condições de trabalho e não digo isso apenas por dizer, digo por que Elton Mayo fez a “Experiência de Hawthorne, que tinha por objetivo inicial estudar a fadiga, os acidentes, a rotatividade de pessoal, e o efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. Essa experiência foi também motivada por um fenômeno apresentado de forma severa à época na fábrica: conflitos entre empregados e empregadores, apatia, tédio, a alienação, o alcoolismo, dentre outros fatores que tornavam difícil a convivência no meio trabalhístico”. E assim provou que o trabalho é mais produtivo se há empregados mais felizes, motivados e satisfeitos.
Imagina então, num ataque de sensibilidade falar sobre o humanismo e qualidade nas relações de trabalho. Ia ser um blá-blá-blá cansativo cheio de ressentimentos, "achismos" e subjetividades. Por isso a importância do referencial teórico, a gente esconde ressentimentos e mágoas por trás de palavras de homens que foram lá, provaram que o que você “acha” realmente funciona, já foi testado e aprovado.
Outro lado ruim de escrever em um momento de mágoa ou tristeza provocada por alguém próximo, é que seu texto vira automaticamente uma indireta postada em um blog. Já fiz muitas indiretas, tão indiretas que eu tive que ir lá dizer:
-Ei! Fulaninho! Veja o texto que escrevi para você, não é lindo?
Pois é, essa pessoa não achou o texto lindo, porém, quem não entendeu a mensagem/indireta, caiu em elogios.
Então, já que estou aqui a falar sobre base teórica, pois bem, devo embasar isso tudo que acabei de escrever, e a única maneira que achei, foi que a Língua Portuguesa diz ser uma metalinguagem, o que, segundo o dicionário informal: É a utilização do código para falar dele mesmo: uma pessoa falando do ato de falar, outra escrevendo sobre o ato de escrever, palavras que explicam o significado de outra palavra.
E não, esse texto não é uma indireta, sinto decepcionar. É que uma amiga hoje me perguntou por que eu não escrevia mais, daí resolvi escrever.